// terça-feira, outubro 31, 2006
FEIRA DO LIVRO -A SAGA-Parte I
Entrar na minha antiga escola sempre me deixa com uma sensação de desalento.Eu praticamente me criei lá dentro, e quando volto vejo tudo diferente, pessoas diferentes, pessoas desconhecidas; sendo que antes eu sabia não apenas o nomecomo também toda a biografia das pessoas que transitavam por lá.
Estranho, de verdade.
Evito ir lá, mas consegui uma carona num "passeio educativo" pra Feira do Livro. Abri uma exceção, subi nas tamancas e fui!
Esperando o ônibus que nos levaria, encontrei meu ex-professor de história. Há mais de dois anos não nos falávamos, e eu lembro que nutria um amor enorme por ele quando era sua aluna.
Ele se aproximou sorrindo, com os braços abertos. Medi ele com os olhos. O que me fazia amá-lo tanto?! Fosse o que fosse, não estava mais ali.
_Laís!! Há quanto tempo!!
_Oi, sor!
Dei um abraço meio desajeitado, afinal, há anos não nos encontrávamos, e eu não conseguiasentir nem um terço da ternura antiga.
_E aí guria, que tu me conta de novo?!
_Hum... nada demais! Tô estudando, só.
_Só?!
_Sim... *levantei a sobrancelha interrogando*
_E o rock?!
Aí eu percebi o que estava tão estranho! Eu saíra de lá vestida de preto e com All Star, semfuro na orelha ou qualquer "frescura" do tipo, maldizendo o sistema e nutrindo uma revolta enormee sem motivo contra tudo e todos. E agora eu estava ali, com um meigo vestido rosa de verão, unhasimpecavelmente feitas e maquiagem caprichada. Não, ele não mudou, eu que sofri mutações catastróficas, sem sequer me dar conta disso.
_Mandei o rock pra PQP, sor -foi a primeira resposta que me ocorreu, devido à revolta que sentipor ter construído tal imagem de mim.
_E agora, que som tu tá curtindo?!
Pensei em responder que isso pouco importava, que a música que uma pessoa ouve diz pouco (ounada) sobre ela, que eu realmente não me importava mais com esse tipo de rótulo.
_MPB, e coisas alternativas...
_Ah, toca aqui! Finalmente, né?!Sorri amarelo.
_E a mana, como tá?!
_Tá bem. Trabalhando, estudando, se forma ano que vem.
_Tu tá fazendo Magistério também?!
_Não!
Imagino que fiz uma cara de muito pavor, já que ele espalmou as mãos em frente ao peito, sedefendendo:
_Eu só perguntei!
_Não... eu vou ser escritora, sor.
Falei num tom como se confessasse "eu larguei os estudos em função das drogas, agora me prostituo e bato carteiras no centro pra manter o vício". Humilde, constrangida. Não, eu não estoufazendo magistério, eu não terei "uma profissão digna" com emprego garantido, talvez nunca venhaa ser reconhecida na minha carreira. Eu te decepcionei, sor. Pode falar.
Esperei que ele falasse o quanto essa área era competitiva, o quanto seria difícil crescer naprofissão, ou como o mercado de trabalho é restrito. Mas ele sorriu de orelha a orelha.
_E eu vou te apoiar, e vou comprar todos teus livros, porque se tem uma coisa que tu faz bemé isso. Com certeza, um fã tu já tem!
Aí eu lembrei porque, mesmo com tudo mudado, eu ainda nutria um tremendo carinho por ele.
Publicado por Laís Medeiros em 18:53
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