// quinta-feira, junho 21, 2007
Estou sofrendo de uma disfunção que impede meu cérebro de assimilar a sensação de saciedade. Tenho feito 6457542418 refeições diárias, e ainda sinto fome.
O mesmo vale para o sono. Após oito horas de sono profundo, chego à aula e caio sobre a classe. É bem verdade que os professores contribuem para isso. O pior deles fala "seje" e ainda diz que o emprego de "seja" depende do contexto.
Os conteúdos também são soníferos. A primeira lei de Mendel me faz divagar longamente sobre um jogo da velha com vários vencedores. Contar carbonos e hidrogênios ao redor de um hexágono é mais maçante que assistir a um documentário sobre formigas. A concordância verbal e suas inúmeras regras me parecem inúteis: ler a frase em voz alta resolve muita coisa. O mesmo vale para o inglês: leia todas as opções, a que te parecer mais bonitinha é a correta. Tem funcionado. Meu senso estético é certeiro.
O que resta é tentar tornar as coisas um pouquinho menos tediantes. Passo metade da aula comendo, outra metade rabiscando. Quando surge uma discussão, tomo parte sem ao menos saber do que se trata. Comecei, inclusive, a discutir futebol. Sem nenhum conhecimento, sem nenhuma ideologia, sem a menor idéia do que falo. Apenas pelo gosto da interação. Inventar dados é minha especialidade. Falo com tanta convicção que ninguém contestaria meu "conhecimento". A estratégia foi testada em debates avaliativos, apresentando resultados satisfatórios. Quem fala "seje" não pode contestar ninguém, é o que eu penso.
Mas voltando ao assunto inicial, a disfunção. O caso é sério. Minha insatisfação já era crônica (como afirma meu dosha, sabe?), agora virou caso de internação. Reclamo, como e durmo. Nem sempre nessa ordem. E em doses exorbitantes. Tenho sonhos macabros, mato pessoas golpeando-as com gavetas. Talvez seja o excesso de cafeína, ou de fibras. Preciso investigar. E a onicofagia está voltando, pra piorar as coisas.
Publicado por Laís Medeiros em 18:39
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