// quinta-feira, setembro 11, 2008
Reconheço o valor de um livro novinho em folha, aquele cheiro de papel novo, as páginas branquinhas, as histórias ainda virgens. Mas nada me comove mais que livros garimpados em sebos. As dedicatórias, as dobras, os riscos, os traços, as marcas de seus antigos leitores; embora não nos conheçamos, vivemos uma espécie de comunhão por apreciarmos a mesma leitura. Quanto se consegue conhecer de uma pessoa através de seus livros?
Antigamente eu marcava meus trechos preferidos dobrando a página. Ou então, sublinhava com lápis. Dessa forma estabeleceria uma espécie de comunicação com seus futuros leitores. Depois me dei conta, que tolice! Nunca conseguiria me desfazer de nenhum item daquela prateleira, mesmo não gostando de todos, mesmo ocupando um espaço considerável dentro do meu minúsculo quarto. Meus livros parecem ter vida, me conhecem como ninguém, estão sempre me encarando com suas capas indiferentes e suas citações acusadoras.
Passei então a destacar as páginas com bilhetes. Entre uma folha e outra, um bilhete indica que aquele trecho merece maior atenção. Os bilhetes da minha mãe. Quase toda manhã encontro um sob a porta do meu quarto, normalmente mensagens sem muita importância; me pedindo pra avisar se venho almoçar ou perguntando onde deixei aquele casaco. Boba que sou, guardo todos. Não tenho uma relação muito amigável com minha mãe, apesar de seus esforços. Mas me divirto com esses bilhetes, a comunicação escrita me empolga; recolho o bilhete do chão e começo meu dia mais alegre.
Reuno assim um banquete de particularidades. Caso tenha um ataque de insensibilidade e abandone meus livros em algum balaio ("um por cinco, dois por sete"), o comprador saberá não apenas que eu amava Jong, mas também que minha mãe me chamava de princesa e que dividíamos nossos casacos e calças jeans.
Capas duras podem ser assustadoramente reveladoras.
Publicado por Laís Medeiros em 11:39
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